A FUTURA BANDEIRA DO BRASIL
Davi
Kopenawa: “Os garimpeiros, sem dúvida, vão matar os índios isolados na área
Yanomani”
Líder Yanomani
denuncia na ONU desmonte de políticas públicas do Governo Bolsonaro, invasão de
seu território pelos garimpeiros e a situação crítica dos grupos isolados.
Davi Kopenawa Yanomami no encontro de
Lideranças Yanomami e Ye'kuana, realizado entre 20 e 23 de novembro de 2019 na
Comunidade Watoriki, na Terra Indígena Yanomami. VICTOR MORIYAMA / ISA
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“Meu povo tem o direito de viver em paz e
em boa saúde, porque ele vive em sua própria casa.
Na floresta estamos em casa! Os Brancos
não podem destruir nossa casa, senão, tudo isso não vai terminar bem para o
mundo”. Este foi o alerta do líder indígena Davi Kopenawa Yanomami, que participou nesta
terça-feira de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, onde deu
seu testemunho sobre a invasão do território Yanomami pelos garimpeiros e a ameaça que isto
representa aos grupos isolados Moxihatetea.
A sessão, promovida pelo Instituto Socioambiental (ISA), pela Comissão Arns e pelo
Conectas, denuncia a frágil situação dos povos indígenas em isolamento no
Brasil, e riscos de etnocídio e genocídio destas populações. Um relatório do
ISA, apresentado na audiência mostra que, em 2019, a derrubada da floresta
nessas terras cresceu 113% no Brasil, sendo que na somatória de todas as Terras
Indígenas (TIs), o aumento foi de 80%. Seis terras indígenas ―Ituna/Itatá,
Kayapó, Munduruku, Uru-Eu-Wau-Wau, Yanomami e Zoró―, que possuem dez registros
de povos indígenas isolados, estão listadas entre as treze TIs que respondem
por 90% do desmatamento nesses territórios”, aponta o relatório.
O desmonte das políticas públicas do Governo Jair Bolsonaro,
como os “cortes de orçamento, perseguição a servidores, deslegitimação dos
dados de desmatamento” estão entre as razões apontadas pelo relatório para o
estímulo a invasões.
Davi Kopenawa Yanomami, durante audiência
da ONU em genebra, nesta terça-feira. DIVULGAÇÃO/ISA
Leia
a íntegra do testemunho de Davi Kopenawa:
As coisas estão assim. Agora os Brancos
não vivem longe de nós. Eles não param de se aproximar. Na cidade de Boa Vista,
eles se tornaram muito numerosos, vão aumentar sem trégua, e agora eles se
exortam uns aos outros. Eles dizem: “Sim, vamos nos apoderar dos bens preciosos
da terra dos Yanomami. Esses bens ainda não são mercadorias de verdade, mas são
bens preciosos, escondidos no cascalho da terra. Nós vamos tomar essas
riquezas, e ainda as árvores da floresta e vamos nos instalar nos Yanomami!”. É
o que os Brancos dizem uns aos outros e é como eles se encorajam: ”Venham para
Boa Vista! Eu, Governo de Roraima, vou lhes dar trabalho! Vocês não serão
mais pobres!”. Estas são as palavras deles. Com elas querem trocar seu dinheiro
e suas mercadorias. Assim os Brancos, todos eles, não param de fixar seu olhar
sobre a nossa floresta para tentar se apoderar dela. Eles dizem: “Sim, nós
vamos arrancar dinheiro da floresta. Os Yanomami não sabem de nada, portanto
são nossas as riquezas”. É isso o que os Brancos falam ao encorajar seus
trabalhadores a virem para a floresta. “Sim, podem ir! Não tenham medo! Os
Yanomami parecem numerosos, mas nós é que somos, de verdade! Mesmo que eles
flechem alguns de nós, ainda assim seremos ainda muito numerosos!”
Dizendo dessas coisas todas é que eles
aumentaram tanto e por toda a parte, na floresta, nos rios, nas terras altas.
Eles querem o ouro. O valor do ouro aumentou
cada vez mais e eles aumentam sem cessar. Eles pensaram: “Sim, agora o valor do
ouro está muito alto. Vamos todos para a terra Yanomami!”. É assim que eles
adentraram a floresta por todos os lados, através dos rios, pelas trilhas, com
seus aviões e helicópteros. É assim que as coisas estão hoje em dia. Eles
abriram portas de entrada pelos rios e pelo ar. Eles desmataram para fazer
pistas de aterrissagem por toda a parte. Também desmataram para fazer novas
trilhas na floresta. Na bacia do Rio Apiaú, é por aí que eles chegam em grande
número. Pelo rio Parimiú também. Eles já foram expulsos de lá, mas voltaram
ainda mais numerosos! Há também uma outra trilha, que sobe ao longo do Rio
Catrimani.
Pela trilha do Rio Apiaú, eles se
aproximaram do lugar onde vive o grupo isolado Moxihatetea. Nas nascentes do
Rio Apiaú, onde vivem esses povos isolados, começaram a atacar e a destruir a
floresta e seus rios. No início, eles trabalhavam com as mãos, mas agora usam
máquinas. Descem as peças dessas máquinas de um helicóptero para, depois,
montá-las ali mesmo. É assim. Os Moxihatetea estão vigilantes e desejam ficar
longe dos Brancos. Eles não conhecem garimpeiros e não querem que se aproximem.
Então já fugiram muitas vezes. Mas agora, não podem mais fugir. Antes
eles se refugiavam na floresta profunda, longe das trilhas, e lá ficavam em
acampamentos provisórios, como quando estavam em expedições de caça, longe de
casa. Os garimpeiros então começaram a roubar a comida dos roçados – a
mandioca, as bananas, as canas de açúcar, quando as suas provisões de arroz,
farinha e latas de conservas se esgotaram. Então os guerreiros Moxihatetea os
atacaram com flechas, mas os garimpeiros mais violentos quiseram se vingar atirando com
espingardas. É o que aconteceu com os Moxihatetea isolados, e eu acho isso
muito errado.
Então eles fugiram de novo subindo o rio,
mas nessa direção também há garimpeiros instalados no Rio Catrimani, criando
obstáculo. Os índios agora estão cercados. Por isso estou falando para
defender os Moxihatetea. Mas eu não conheço as suas casas, assim como vocês
também não conhecem. Eu só as vi do céu, do avião. Nunca os visitei a pé. Nunca
nos falamos. É por isso que estou muito preocupado. Talvez em breve estarão
exterminados. É o que eu acho. Os garimpeiros sem dúvida vão matá-los com suas
espingardas e suas doenças, a sua malária, a sua pneumonia... Os indígenas não
têm vacinas
de proteção, vão todos desaparecer.
E não há só eles na terra-floresta
Yanomami. Mais além, na região de
Erico, vivem outros povos isolados. São como os Moxihatetea. E também, na outra
margem do Rio Catrimani, a jusante, nas cabeceiras do Rio Xeriuini, há outros
isolados. E ainda num afluente do Rio Arca, no centro. É por isso que lutamos
por eles. Estamos muito inquietos pelo que possa lhes acontecer. Há outros
isolados na floresta próxima dos Waimiri-Atroari e há outros em toda a Amazônia!
Viviam assim há muito tempo e querem continuar assim! São eles que cuidam
verdadeiramente da floresta. São os Moxihatetea e todos os povos isolados da
Amazônia que ainda guardam a última floresta. Mas os Brancos não sabem disso, porque eles
não compreendem a língua desses povos. Os brancos apenas pensam: “O que eles
estão fazendo aqui?” E quando os
Brancos chegam, são suas epidemias que chegam também com eles.
É por isso que eu reflito: “O que acham os
Grandes Homens [autoridades] dos brancos? Não querem nos deixar viver em paz e
em boa saúde? Eles nos detestam, de
verdade?”. É evidente que nos consideram como inimigos, porque somos outras
gentes, somos habitantes da floresta. Fomos criados na floresta da
Amazônia, no Brasil, e por isso os Brancos não nos conhecem. Eles se contentam
em atacar e destruir à vontade nossa floresta. Não é a terra deles mas eles
declararam que lhe pertence. Eles pensam: “Essa floresta é nossa. Vamos
arrancar o ouro do solo, cortar as suas árvores e vamos instalar aqui outros
brancos que necessitam de terra, os criadores de gado, os colonos, e vamos
então acabar com os Yanomami”. Não é só o que eles pensam, agora é até o que
eles dizem mesmo!
O novo presidente do Brasil, eu nem
menciono o seu nome, nem digo para ele: “Como você é o presidente, você deveria
nos proteger!”. Eu já conheço as palavras desse presidente: “Que venham todos
os Brancos que queiram dinheiro, os criadores de gado, os madeireiros, os
garimpeiros e os colonos também. Eu vou dar-lhes essa floresta, para acabar com
todos os Yanomami, todos eles, e para que os Brancos se tornem os
proprietários. É nossa terra e tudo bem! Assim é, eu sou o único senhor dessa
terra!”. Essas são as suas palavras. Essas são as palavras daquele que se faz
de grande homem no Brasil e se diz Presidente da República. É o que ele
verdadeiramente diz: “Eu sou o dono dessa floresta, desses rios, desse subsolo,
dos minérios, do ouro e das pedras preciosas! Tudo isso me pertence, então, vão
lá buscar tudo e trazer para a cidade. Faremos tudo virar mercadoria!”.
É o que os Brancos acham e é com essas palavras
que destroem a floresta, desde sempre. Mas,
hoje, eles estão acabando com o pouco que resta. Eles já destruíram os nossas
trilhas, sujaram os nossos rios, envenenaram os peixes, queimaram as árvores e
os animais que caçamos. Eles nos matam também com as suas epidemias. Alguns Brancos têm pena de nós, mas não os
seus Grandes Homens, que dizem que nós somos animais. Eles dizem: “São macacos,
porcos do mato!”. No entanto, são esses homens que não sabem pensar. Eles não
sabem trabalhar na floresta, não conhecem seu poder de fertilidade në
rope. Só ficam andando de um lado para o outro, destruindo. Eles só
querem conhecer a floresta do alto de suas máquinas satélites, que saem das
cidades e que olham de relance as árvores, as nossas casas, os rios, as colinas,
a beleza da floresta. Depois disso eles chamam os outros: “Sim, venham pra cá.
Nós todos do Brasil vamos tirar os bens preciosos! Nós vamos acumular tudo isso
nas cidades! Nós vamos, de verdade, virar o Povo da Mercadoria! Não seremos
mais pobres, vamos ter muitos bens!”. É o que eles dizem entre eles. Era isso
que eu queria contar aqui. Essa gente é indiferente às palavras daqueles que
defendem os Yanomami. Mesmo assim, envio essa mensagem.
Gostaria que os Direitos
Humanos da ONU pudessem olhar para nós e nos dar um apoio muito forte
para que as autoridades do Brasil ―os políticos dos municípios, dos estados e
da capital ―todos esses Brancos das cidades, nos respeitem e não nos molestem
mais. Que eles compreendam e reconheçam os direitos dos seres humanos, assim
como faz a ONU. Os Direitos Humanos da ONU são construídos para defender os que
sofrem. Então, eu gostaria que a ONU
faça um bom trabalho, denunciando com muita força o que nos acontece, para que
as autoridades do Brasil respeitem os Yanomami, os povos isolados e todos os
povos ainda não reconhecidos.
Meu
povo tem o direito de viver em paz e em boa saúde, porque ele vive em sua
própria casa. Na floresta estamos em casa! Os Brancos não podem destruir nossa
casa, senão, tudo isso não vai terminar bem para o mundo. Cuidamos da floresta
para todos, não só para os Yanomami e os povos isolados. Trabalhamos com os
nossos xamãs, que conhecem bem essas coisas, que possuem uma sabedoria que tem
contato com a terra. A ONU precisa falar com as autoridades do Brasil para
retirar ―imediatamente― os garimpeiros que cercam os isolados e todos os outros
em nossa floresta.
Comentário:
O governo de Jair Bolsonaro vai destruir
os povos indígenas, a fauna e a flora da floresta do Amazonas, e todos os
brasileiros e o mundo vão pagar por essa insanidade de ambição e poder desse
presidente da República Federativa do Brasil que deseja entregar todas as
riquezas do Brasil aos EUA e aos poderosos do poder econômico internacional.
No passado, os EUA cometeu essa mesma insanidade
contra os índios norte-americanos e conseguiram exterminar ou deixar alguns
povos indígenas na miséria social.
Aqui é diferente, aqui temos uma floresta
fechada com árvores centenárias e que, vão cortar sem pena nem dó, um
patrimônio nacional, para receber migalhas dos madeireiros que vão enriquecer
com a destruição da floresta amazônica. É preciso que alguém tenha o poder de
deter essa máquina de destruição ambiental que se chama Bolsonaro.
Ernani Serra
Pensamento: A
destruição do meio ambiente só trás um ambiente deserto.
Ernani Serra
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