FLORESTA EM PÉ OU DESINVESTIMENTO
Presidentes
de Itaú e Bradesco alertam para perigo ambiental, enquanto Bolsonaro vê “desinformação”
Embaixadas do
Brasil receberam carta de 30 instituições financeiras que
ameaçam tirar seus recursos do País, caso o governo não trabalhe para deter o
desmatamento.
A preocupação com a forma como o Brasil
está lidando com a questão ambiental ganhou espaço no debate dos principais
banqueiros brasileiros, incluindo presidentes do Itaú e do Bradesco, mesmo em
um “palanque virtual”, onde o assunto chave
deveria ser tecnologia bancária. O alerta para consequências silenciosas e que
podem se prolongar além dos estragos da própria pandemia ocorre em meio à
repercussão do tema junto ao olhar estrangeiro enquanto o presidente Jair
Bolsonaro vê apenas “desinformação”.
A questão ambiental é, na opinião do presidente
do Itaú Unibanco, Candido
Bracher, o principal “perigo” que ameaça o
Brasil é o ambiental. "No momento em que a sociedade se percebe frágil, a
gente deve olhar para outros perigos. As consequências ambientais podem até vir
de uma maneira mais lenta do que as da saúde como a covid-19, mas são mais
duradouras e difíceis de reverter", avaliou o executivo, durante debate no
CIAB, feira de tecnologia bancária, promovida pela Federação Brasileira de
Bancos (Febraban) e que teve a sua primeira
versão virtual.
O presidente do maior banco da América
Latina, com quase R$ 2 trilhões em ativos
totais, alertou para o aumento dos incêndios na Amazônia no início deste ano,
enquanto o Brasil tenta combater a propagação do novo coronavírus - é o
terceiro maior país em mortes por covid-19. "Estamos vendo neste início de
ano de 2020, incêndios com 60% maiores do que foram no ano passado e nós
precisamos enquanto sociedade nos mover contra isso", disse ele,
acrescentando que os bancos têm um "peso
importantíssimo" no tema.
"Todo mundo falava de
sustentabilidade, de problema com o Planeta, de
aquecimento global, reflorestamento, derrubada, de qualidade do ar, da água.
Todo mundo falava sobre isso, mas de fato nós temos de reconhecer que fizemos
muito pouco em relação a isso", observou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari.
Para o executivo, a pandemia alertou o
mundo sobre a maneira como todos estavam vivendo até então. "Parece que o
Planeta deu um grito e falou: vocês têm a chance de recuperarem o que estão
fazendo", disse Lazari.
O alerta vem no mesmo dia de uma ameaça da
Europa. Embaixadas do Brasil no continente europeu receberam uma carta de um
grupo formado por 29 instituições financeiras,
com US$ 3,7 trilhões em ativos totais, e que
ameaçam retirar seus recursos do País caso o governo Bolsonaro não atue para
conter o desmatamento na Amazônia. O documento, que ganhou espaço no jornal
britânico Financial Times, encorpou um coro de
críticas negativas às políticas ambientais do governo.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contudo, acredita no fato de a imagem do
País não estar “muito boa” em relação à questão
ambiental por “desinformação”. "Nós sabemos que nossa imagem não está muito boa aí fora por
desinformação", afirmou ele, ontem, alegando que o Brasil é o País
que "mais preserva". Como de costume,
rebateu as avaliações negativas que seu governo tem recebido sobre a questão
ambiental. Segundo ele, há país estrangeiro que critica o Brasil não tendo
"um palmo de mata ciliar".
Segundo o presidente do BTG Pactual,
Roberto Sallouti, a agenda ASG, sigla para ações ambientais, sociais e de
governança, não é mais “opcional”. "É algo
que, se nós não incorporarmos, os nossos clientes vão escolher outros bancos
porque essa é uma demanda da sociedade. Acho que como setor temos muito que
mostrar", avaliou ele, durante debate com outros banqueiros no CIAB.
Sallouti fez uma “provocação”
aos demais presidentes de bancos e defendeu uma ação coletiva. Segundo ele, o setor bancário é o que tem
mais agenda ASG no País. Nesse sentido, o presidente do BTG sugeriu aos bancos
publicarem um balanço consolidado das ações ambientais, sociais e de
governança. Bracher, do Itaú, concordou com o concorrente e avaliou como “importante” a iniciativa.
Algumas instituições financeiras no Brasil
já publicam o balanço ASG (ambiental, social e
governança). No entanto, como a iniciativa não é mandatória nem todos os
fazem. Ao Estadão/Broadcast,
a Febraban informou que os bancos estão revendo a norma de autorregulação e que
esse ponto pode ser trabalhado no âmbito dos compromissos do setor bancário.
Ernani Serra
Pensamento: A
rede bancária mundial domina todos os países.
Ernani Serra
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